A história monetária do Brasil remonta aos tempos da colonização, quando foram utilizadas diversas moedas estrangeiras como meio de troca. Ao longo dos séculos, o país passou por diversas mudanças econômicas e políticas que influenciaram a criação e a transição das moedas. Já circularam por aqui nove diferentes moedas, cada uma com suas particularidades e impactos em nossa vida financeira.
Contudo, as mudanças monetárias não ocorreram de maneira aleatória. Um dos principais fatores que influenciaram essas transições foi a inflação, uma adversidade que abalou nossa economia em determinados períodos da história. A hiperinflação, em especial, representou um desafio significativo para o país.
Assim, em busca de estabilidade e controle sobre a inflação, o Brasil embarcou em uma jornada de trocas de moedas ao longo do tempo. Foram tomadas várias medidas, estratégias e decisões corajosas para mitigar os efeitos desse desequilíbrio financeiro. Por fim, a mudança para o real se revelou como um divisor de águas, representando a combinação de esforços bem-sucedidos na busca pelo controle da inflação.
Moeda de Troca na Época Colonial:
Durante o período colonial, o Brasil utilizava como moeda de troca o réis, uma unidade monetária portuguesa. Essa moeda era cunhada em Portugal e circulava também em suas colônias, incluindo o Brasil. O réis era utilizado para transações comerciais e pagamentos de impostos. No entanto, a escassez de moedas e a falta de controle adequado levaram à circulação de diversas moedas estrangeiras, como o ouro em pó, o ouro em barras, o cobre, o dinheiro de cobre e os escudos.
Criação da Casa da Moeda do Brasil:
Com a chegada da Família Real ao Brasil em 1808, foi criada a Casa da Moeda do Brasil. A instituição tinha como objetivo principal cunhar moedas no país, reduzindo a dependência das remessas de moedas de Portugal. Essa medida trouxe mais autonomia monetária ao Brasil. A Casa da Moeda do Brasil começou a emitir moedas de cobre, prata e ouro, como os réis, os vinténs e os dobrões.
Quantas e quais moedas o Brasil já teve?
Ao longo dos anos, o Brasil experimentou a emissão de nove moedas, incluindo três versões do Cruzeiro. E cada moeda carrega consigo uma parte de nossa história e os esforços coletivos para construir um sistema monetário que sustentasse o desenvolvimento econômico e a confiança em nossa economia.
1. Réis
Até o ano de 1942, o Réis foi a moeda em circulação no Brasil durante o período colonial. Durante essa época, o sistema financeiro do Brasil era baseado no escambo, ou seja, na troca direta de mercadorias em vez do uso de moedas.
Conforme a colonização avançava, ocorria a introdução de diversas moedas estrangeiras, que passaram a ser utilizadas como meio de troca no território colonial brasileiro.
O Réis se destaca como a primeira moeda utilizada no Brasil, tendo também sido estabelecida como moeda oficial em Portugal, ao longo da história monetária do país.
Assim, o termo “réis” tem sua origem relacionada à palavra “real”, sendo mais frequentemente utilizado no plural, “reais”, e posteriormente popularizado como “réis”.
Com a conquista da independência do Brasil e o estabelecimento do regime republicano, essa primeira moeda permaneceu em circulação. No entanto, as imagens e desenhos presentes nas cédulas e moedas foram alterados para refletir a nova era política e os símbolos da nação.
2. Cruzeiro (Cr$)
Em 1942, foi iniciado a utilização do cruzeiro como moeda no Brasil, permanecendo em vigor até 1967, sendo representado pelo símbolo Cr$.
O cruzeiro foi introduzido durante o período do Estado Novo, visando padronizar a moeda em circulação.
No entanto, houve uma modificação no valor em relação aos réis. Assim, um cruzeiro equivalia a mil réis. É importante ressaltar que antes da adoção do cruzeiro, existiam 56 tipos diferentes de cédulas em circulação no Brasil.
No início da implementação do cruzeiro como moeda oficial, entraram em circulação as notas de 10, 20, 50, 100, 200, 500 e 1000 cruzeiros. E cada unidade de cruzeiro equivalia a mil réis (Cr$ 1,00 = Rs 1$000).
Posteriormente, foram introduzidas notas de 1 e 2 cruzeiros, com o intuito de substituir as moedas em circulação. Essa mudança foi motivada pela escassez de recursos do governo no período.
Mas devido à introdução do cruzeiro, em 1961 resultou em uma significativa alta na inflação, o que levou à emissão de notas de Cr$ 5000 e Cr$ 10,000.
É relevante mencionar que o cruzeiro foi a primeira cédula impressa no Brasil, enquanto as notas anteriores eram produzidas na Europa e nos Estados Unidos da América (EUA).
Além disso, durante esse período, ocorreu a criação da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), que se tornou a primeira autoridade monetária do país, antecedendo a fundação do Banco Central em 1964.
3. Cruzeiro novo (NCr$)
O cruzeiro novo foi estabelecido como moeda no período de 1967 a 1970, sendo identificado pelo símbolo NCr$.
No dia 13 de fevereiro de 1967, o cruzeiro foi substituído pelo cruzeiro novo (NCr$) devido ao agravamento da inflação. Essa moeda vigorou até 1970.
Devido à crise inflacionária, o Cruzeiro sofreu um abalo significativo, levando o governo a introduzir a moeda como uma medida temporária. Nesse sistema monetário, cada unidade de Cruzeiro Novo equivalia exatamente a mil Cruzeiros antigos (NCr$ 1,00 = Cr$ 1.000,00).
Essa decisão foi tomada como uma alternativa à impressão de novas cédulas de Cruzeiro com valores atualizados. Em vez disso, optou-se por carimbar os novos valores nas notas existentes. Essa estratégia tinha como objetivo lidar com a inflação descontrolada e proporcionar alguma estabilidade à moeda em circulação.
4. Cruzeiro (Cr$)
Após três anos de utilização do Cruzeiro Novo, a moeda retornou ao nome original de Cruzeiro. Dessa forma, o Cruzeiro foi utilizado no período de 1970 a 1986, sendo representado pelo símbolo Cr$.
No entanto, nessa nova modalidade, o valor do Cruzeiro era equivalente a exatamente 1 Cruzeiro Novo (Cr$ 1,00 = NCr$ 1,00).
Essa nova fase do Cruzeiro durou 16 anos. E durante a década de 80, a inflação começou a aumentar significativamente. Como resultado desse novo surto inflacionário, o Cruzeiro foi substituído pelo Cruzado.
5. Cruzado (Cz$)
O Cruzado, representado pelo símbolo Cz$, foi adotado como moeda no período de 1986 a 1989.
Essa nova moeda surgiu em conjunto com o Plano Cruzado, implementado pelo presidente José Sarney e sua equipe econômica. Onde um cruzado equivalia a mil cruzeiros (Cz$ 1,00 = Cr$ 1.000,00).
O principal objetivo desse plano era restaurar o poder de compra da população ao combater a inflação, que havia se tornado um desafio significativo para a economia do país. O Plano Cruzado buscava estabilizar os preços e proporcionar um ambiente econômico mais saudável, visando melhorar a qualidade de vida da população.
6. Cruzado novo (NCz$)
Durante o governo de Sarney, em uma tentativa de conter a inflação crescente, foi introduzido o cruzado novo, que teve circulação de 1989 a 1990, representado pelo símbolo NCz$.
Em 16 de janeiro de 1989, o cruzado novo foi lançado como uma nova moeda, substituindo o cruzado. Nessa reforma monetária, ocorreu a redução de zeros, de modo que um cruzado novo valia mil cruzados antigos (NCz$ 1,00 = Cz$ 1.000,00).
Inicialmente, foram utilizadas as antigas notas de cruzado, que receberam carimbos com os novos valores. Posteriormente, novas cédulas foram fabricadas para circular. Essa medida buscou corrigir a inflação e simplificar as transações econômicas, facilitando a compreensão dos valores monetários para a população.
7. Cruzeiros (Cr$)
O cruzeiro voltou a ser a moeda em circulação no período de 1990 a 1993, representado pelo símbolo Cr$.
Após o insucesso do plano cruzado no combate à inflação e a constatação de que a estratégia de cortes de zeros não estava surtindo efeito, em 16 de março de 1990, foi reintroduzido o cruzeiro como unidade monetária. Nessa transição, não houve corte de zeros, sendo assim, um cruzeiro correspondia a um cruzado novo (Cr$ 1,00 = NCz$ 1,00).
No entanto, a mudança de moeda veio acompanhada de um novo plano econômico, o Plano Collor, implementado durante o governo de Fernando Collor de Mello e que vigorou de 1990 a 1992.
Juntamente com o Plano Collor, ocorreu o polêmico bloqueio dos recursos da poupança dos brasileiros, uma medida drástica adotada para tentar conter a inflação e controlar a economia do país. Essa ação gerou consequências significativas e gerou um impacto profundo na confiança e nas finanças da população.
8. Cruzeiro real (CR$)
O cruzeiro real foi utilizado como moeda no período de 1993 a 1994, sendo representado pelo símbolo CR$. Novamente reduzindo três zeros nas cédulas, onde um cruzeiro real equivalia a mil cruzeiros (CR$ 1,00 = Cr$ 1.000,00).
Essa nova moeda foi estabelecida pelo governo do presidente Fernando Henrique após o plano econômico implementado pelo presidente Collor. O cruzeiro real substituiu o cruzeiro e fez parte do processo de implantação da Unidade Real de Valor (URV), sendo praticamente uma moeda imaginária.
A ideia era que a URV servisse como uma referência de valor estável. Diariamente, o seu valor era ajustado com base nas condições econômicas, ou seja, ele podia mudar a cada dia. Esse ajuste diário era feito para acompanhar a inflação e manter o poder de compra da moeda.
O cruzeiro real foi uma tentativa de estabilizar a economia e combater a inflação, mas logo em seguida foi substituído pelo Real, que se tornou a moeda oficial do Brasil em 1994.
9. Real (R$) – moeda atual do Brasil
O real é a moeda em circulação no Brasil desde 1994 até os dias atuais, sendo representado pelo símbolo R$.
A introdução do real ocorreu como parte do Plano Real, um conjunto de medidas econômicas implementadas para combater a hiperinflação e estabilizar a economia do país.
No processo de conversão, cada unidade de real passou a equivaler a 2.750 cruzeiros reais (R$1,00 = CR$ 2.750,00), estabelecendo uma nova taxa de câmbio. Essa taxa diferenciou-se dos planos e reformas monetárias anteriores, marcando um novo momento na história monetária do Brasil.
Desde então, o real se mantém como a moeda oficial do país, sendo utilizada nas transações comerciais e financeiras. Ao longo dos anos, o real enfrentou desafios econômicos, flutuações cambiais e políticas monetárias, mas continua sendo a representação da unidade monetária brasileira.
Em 2010, o Banco Central do Brasil lançou a segunda família do real, com novos designs e características de segurança. As cédulas da segunda família foram produzidas em papel-moeda de fibra de algodão, com um toque mais áspero e resistente. As características de segurança foram aprimoradas, com a inclusão de elementos holográficos, microimpressão e tinta fluorescente.
A cédula de 200 reais foi lançada em 2020, sendo a primeira cédula da segunda família a ser lançada após 10 anos. O lançamento da cédula de 200 reais foi motivado pelo aumento da demanda por notas de alta denominação. A cédula de 200 reais é destinada a atender às necessidades de pessoas e empresas que realizam grandes transações financeiras. A cédula também é uma medida de combate à sonegação fiscal, pois dificulta a utilização de dinheiro em espécie para fins ilegais.
A primeira moeda
A primeira moeda oficial do Brasil foi o real, introduzido em 1694 durante o período colonial. No entanto, o dobrão de 20 mil réis é uma das moedas mais antigas e icônicas produzidas no Brasil.
O dobrão de 20 mil réis foi cunhado pela primeira vez em 1724, na Casa da Moeda de Vila Rica, localizada em Minas Gerais. Essa moeda tinha um alto valor nominal, representando 20 mil réis, o que a tornava uma moeda de grande poder aquisitivo na época.
Além de seu valor expressivo, o dobrão de 20 mil réis se destacava por seu peso significativo. Com cerca de 53,8 gramas, era considerada uma das moedas mais pesadas já produzidas no mundo. Essa característica conferia à moeda uma sensação de solidez e valor intrínseco.
Durante o período em que circulou, que foi até meados da proclamação da república em 1889, o dobrão de 20 mil réis era amplamente utilizado nas transações comerciais e no sistema monetário brasileiro.
Apesar de ter sido substituído por outras moedas ao longo do tempo, o dobrão de 20 mil réis permanece como uma peça de grande importância histórica e numismática, representando uma era passada da economia brasileira.